10 de agosto de 2010

Oásis

"Vinha caminhando pela rua (...), e a primeira coisa que ele viu foi o largo macacão de lona azul-escuro, com uma alça meio frouxa, quase deslizando pelo ombro e deixando mostrar mais a camiseta branca que o cobria, além dos seios e a barriga, é claro. Embaixo, tênis e um andar patético, de pés imperceptivelmente voltados pra dentro e com passadas preguiçosas, arrastando um muito pouco o pé no chão a cada passada. Os braços compridos e sem vida balançavam mais que o necessário, e numa das balançadas, sem perder o balanço, o braço direito veio até o rosto, e as costas da mão encontraram o nariz esmagando-o, deformando o desenho que as poucas sardas faziam, e liberando assim o som engraçado de uma fungada. Os olhos castanhos, assustadoramente escuros, grandes e bobos, que num primeiro momento tinham pálpebras relaxadas e olhar distraído, apertaram-se muito mais que o necessário durante a fungada, e a boca fina, que já tinha um meio-sorriso só do lado direito, franziu-se toda para este mesmo lado. O gesto foi lindo, uma fungada expressiva, que contraiu todo o rosto dela pra depois deixá-lo voltar, devagar, à expressão despreocupada e idiota que impressionou tanto o observador. Logo depois da fungada ela balançou rapidamente a cabeça pra um lado e para o outro, sacudindo os cabelos da mesma cor dos olhos, meio embaraçados, um tanto cheios, espalhando-se pelo ar sem um formato definido até quase tocar os ombros. Ela era linda. A alça do macacão caiu, enfim."