Alberto é seu nome, e não se lhe faz desgosto. Apesar de engraçado. Abre os olhos, depois de tentar andar com eles fechados, e de não aguentar depois de um tempo. A manhã, fresca, tem cheiro de chuva passada, aroma de verão. A caminhar pela rua, e não interessa mesmo de onde vem, muito menos seu destino - até porque eu mesmo não lhe poderia dizer, por não sabê-lo -, Alberto não nos pareceria, se lá estivéssemos, a pessoa mais contente do mundo. Aliás, fechara os olhos por um motivo. A simples memória de seu trabalho, rotina desinteressante, mecânica inevitável de uma máquina irrefreável, causa-lhe asco. Andar parece a solução, mas não: a lembrança não lhe escapa do cérebro. Ao ponto em que qualquer um não mais aguentaria e saltaria de um prédio... Acha a solução! Apaga, de uma vez só, tudo o que se relaciona de algum modo com o trabalho.
Anda mais um pouco, agora aliviado, até avistar, no canto, um sujo e maltratado mendigo. Agora que está em paz, não quer em sua alma mais nenhuma perturbação: apaga o mendigo. Ainda mais a frente, crianças brincando num balanço. Apaga-as, por distração. Apenas agora está lá o balanço; apaga-o. Animado, apaga o vendedor de balões e o guarda de trânsito, apaga os carros brancos, que sempre achou sem graça, e depois todo carro. Apagar cada vez mostra-se mais divertido, e ele apaga cada jornal, cada chapéu, cada pacote de biscoito. Apaga o banco. Apaga as árvores e os animais que a parasitam, e um ou outro cachorro. Apaga seu último cigarro (admitamos que nunca o tenha acendido); apaga o amor e o ódio - apesar de pensar que, no fim, são o mesmo. Até a própria rua, a calçada, o chão, o ar, o sol, o ser, apaga tudo.
Agora, e só agora, afinal, Alberto sente-se Alberto. Ausente o mundo, ele consegue finalmente perceber-se, e não só, pode ser o que é de fato; agora, e só agora que está desvinculado de todo o resto. A totalidade (a eternidade também, pois ele apagou também o tempo) resume-se a ele, singular indivíduo. Ah, mas espere, parece que há ainda algo... Alberto terá esquecido de apagá-lo? Abrupto, e ainda sutil, um cheiro fresco, de chuva passada, indefinido; aroma de verão.
Anda mais um pouco, agora aliviado, até avistar, no canto, um sujo e maltratado mendigo. Agora que está em paz, não quer em sua alma mais nenhuma perturbação: apaga o mendigo. Ainda mais a frente, crianças brincando num balanço. Apaga-as, por distração. Apenas agora está lá o balanço; apaga-o. Animado, apaga o vendedor de balões e o guarda de trânsito, apaga os carros brancos, que sempre achou sem graça, e depois todo carro. Apagar cada vez mostra-se mais divertido, e ele apaga cada jornal, cada chapéu, cada pacote de biscoito. Apaga o banco. Apaga as árvores e os animais que a parasitam, e um ou outro cachorro. Apaga seu último cigarro (admitamos que nunca o tenha acendido); apaga o amor e o ódio - apesar de pensar que, no fim, são o mesmo. Até a própria rua, a calçada, o chão, o ar, o sol, o ser, apaga tudo.
Agora, e só agora, afinal, Alberto sente-se Alberto. Ausente o mundo, ele consegue finalmente perceber-se, e não só, pode ser o que é de fato; agora, e só agora que está desvinculado de todo o resto. A totalidade (a eternidade também, pois ele apagou também o tempo) resume-se a ele, singular indivíduo. Ah, mas espere, parece que há ainda algo... Alberto terá esquecido de apagá-lo? Abrupto, e ainda sutil, um cheiro fresco, de chuva passada, indefinido; aroma de verão.