24 de dezembro de 2012

Dom Casmurro

E se a ópera não começa na primeira ária
mas sim já no solo, e depois sim vem o duo
terníssimo?

A vida, em seus mundos,
é uma ópera, viste; pode ver.
E se o tempo, nos olhos fundos,
insiste em, com mistério,
congelar, se reter,
faz-se não importar
um adultério, traição,
um beijo cortês,
um olhar matreiro.
Trair é fazer de dois três,
mas quem é o terceiro,
então?
Quem sabe eu, ou mesmo tu.
Não.
É impossível trair em amor:
Não há culpa, dor, nada se faz,
só há, no mais, Capitu.

20 de maio de 2012

Verdade

E vai lá o homem à lua
e é sua ela agora,
pois a partir da hora
em que se torna crua,
em que a coisa se desvela,
é do homem. Fim.
Pois sim, que sobre ela
por mais que se insista
não se sabe a metade,
não se tem pista;
se queriam a verdade,
se era esta a meta,
por que cientista?
Mandassem um poeta!
Logo desse lá a vista
com crateras, com vazio,
espaço deveras,
estrelas, mais de mil,
num pedaço macio
de papel lunar
em palavras meras
iria descrevê-las,
ou ao menos tentar.
Escreveria do astronauta
o gracioso bailar,
e poria em linhas
a cratera mais alta
e o rolar das pedrinhas
quando, a ela escalar,
desse, surpreso, falta
do mar.
Mandaram (pena?) cientista,
que logo fez esquema,
passou trena, pesou rocha,
sem qualquer ponto de vista
anotou cada minério.
Está ai o problema:
ao se ter nua resposta,
sobre a lua tanta pista,
perde ela
(pois revela)
todo o seu mistério.
Mas venha cá quem vier,
até quiçá, militar,
ao levantar o olhar
e perceber, rente,
o surpreendente domo,
por mais que se tente
não há mesmo como
ser somente voyeur.
Em conquistas quaisquer
ideias surgem,
ideias somem.
Certo é que aqueles homens
que à lua foram com alfas e betas
foram cientistas,
mas voltaram poetas.