28 de maio de 2011

Relatividade I

- Com licença, garçom, mas tem sopa na minha mosca.

- Não era ensopada?

- Não, cozida ao vapor.

- Mil desculpas então, senhor. Vou trocar. Perdoe o inconveniente!

- Tudo bem, tudo bem, esse ainda é o melhor restaurante do brejo. Onde mais um sapo pode comer uma mosca tão saborosa por esse preço?

22 de maio de 2011

Bolo

Olha, mas não vê. Procura, vasculha. Os músculos já lhe doem, razão pela qual se move um pouco, troca a posição das pernas e logo dos braços. Os olhos também já não estão tão bem, e as mãos esfregam as olheiras. Olhando de longe, parece uma escultura, estátua, parada enquanto tudo ao redor se move; situação que dialoga com a dos já referidos olhos, que parecem mover-se sem parar enquanto tudo em volta deles estagna.
O ambiente ao redor cada vez mais se alenta e o movimento pouco a pouco começa a cessar, e o corpo, que mesmo com os olhos vacilantes ainda permanecia parado, move-se, como se quisesse contrariar o entorno, quase brusco: suspende-se todo sobre si, e se solta. Um suspiro. Os pulmões se enchem totalmente de ar e o liberam, mas com o ar parece sair também algo mais.
Levanta-se, olha, mas não vê. Procura, vasculha uma última vez, mas já sem esperança: a pessoa por quem está a esperar não vem.