13 de outubro de 2008

Intercessão; interseção.

Sempre recatado e tímido, uma certa vez, no ônibus, pensou, pensou e decidiu, num impulso - pois há certas coisas que, para fazê-las, há de enganar a si próprio ou não se deixa fazer, reprime-se; decidiu e, antes que pudesse pensar o contrário, levantou-se e apoiou na catraca, na frente do ônibus.

Atenção - disse em voz alta - todos! Nunca falei nada em público, mas estou precisando me testar. Precisando testar a mim e ao mundo, precisando saber que vocês também pensam como eu: que a vida é uma trama de conexões e desconexões, o cotidiano é uma rede de desconhecimentos, uma trança de histórias que se perpassam, ainda que não se tenha idéia de que isso ocorra, ou ao menos idéia de quais são essas histórias e de quem são os sujeitos dessas histórias. É incrivel, pensem, como nossas histórias estão interligadas por esse episódio, e como talvez já tenham se encontrado antes, quem sabe depois, mas ainda assim nós não nos conhecemos nem talvez nos conheceremos... E mesmo se nos conhecêssemos no futuro não lembrariamos uns dos outros! Não é incrível pensar nisso e saber que isso acontece o tempo todo à nossa volta?

Silêncio, depois balbúrdia. Ninguém prestou muita atenção no que ele - que foi sentar, vermelho - disse, mas não lhe fez diferença: nunca mais voltaria a encontrar nenhuma daquelas pessoas.

3 comentários:

Igor Dorneles disse...

Se eu pudesse seria amigo de verdade de todos no mundo daria carinho amor a todo mundo eu tenho serios problemas com que vivemos todos os dias, termos tantos a nossa volta, mas na verdade estarmos tão sozinhos, eu não quero prender ninguém a mim, mas realmente desejo levar comigo um pouquinho do mundo, quando lá na frente eu olhar pra trás vou ter o orgulho dizer que tive muitos amigos.

Entendo e compartilho o desejo do cara do conto, mas sei lá acho que não conseguiria ter tantas pessoas pra me preocupar isso iria me sufocar com o tempo mas eu ia gostar muito mesmo que fosse só por um tempo.

Daniel Gaivota disse...

Mas ele não quer necessariamente se relacionar com todos.
Ele só quer que eles saibam o que está acontecendo em volta e que entendam o quão incrível o cotidiano pode ser, ainda mais quando se mora no mesmo lugar que outras milhões de pessoas.
Quais as probabilidades de encontrar a mesma pessoa duas vezes por acaso?

Daniel Gaivota disse...

Agora que reparei que escrevi dois posts seguidos cujos cenários eram ônibus. Acho que é porque eu tenho muito tempo pra pensar quando ando de ônibus.