20 de março de 2009

Sobre a amizade

Tive, quarta-feira passada, oportunidade de passar a noite conversando com algumas pessoas que considero muito agradáveis. Foi uma noite muito divertida, e no meio de uma das deliciosas (sempre o são) conversas, pude perceber - tardio - uma coisa sobre mim.
Ao leitor que estivesse ausente, explico: conversávamos em certo ponto sobre amizade, e uma das pessoas que lá estava discutia como tinha medo/raiva de pessoas que "roubavam" seus amigos, transformando-os em algo diferente enquanto estivessem presentes. Me posicionei dizendo que não entendia esse tipo de relação de posse que as pessoas têm em qualquer relacionamento, e neste ponto, a partir da fala dela e da minha, pude compreender muitas coisas.
Revisitando todas as minhas amizades e observando as relações de algumas das pessoas que estavam lá quarta, amigos há bastante mais tempo do que me conhecem, consegui enxergar que não possuir esse tipo de relação com as pessoas é justamente o fato que rege minha rede de amigos e meu próprio conceito de amizade. O jeito como se se estabelecem os grupos de amigos (este observado quarta-feira, por exemplo), as ligações, as ações, os contratos implícitos, eles não podem de modo algum se aplicar sem que haja essa relação de posse. Não tendo (e não demonstrando) eu esse apego, esse prender-se ao outro, as pessoas que me rodeiam não conseguem alcançar o nível mínimo de intimidade para uma amizade de fato, nem consideram-se (enganam-se todos) queridos o bastante.
Pensando bem, minha meia dúzia de amigos divide-se em dois (não tão) distintos grupos: o primeiro, daqueles que tiveram algum tipo de decepção ou desapontamento e por isso (ou não) não confiam nem se aproximam mais de mim, mas que, por termos uma relação muito forte, é impossível separarmo-nos; e o segundo, composto por pessoas com as quais não converso ou que não vejo quase nunca, mas que quando encontro ou converso é como se tivéssemos nos visto no dia anterior. Sendo assim, a condição básica das minhas amizades é, triste conclusão, a distância.
Não quero, com tudo isso, desconsiderar as pessoas que estão à minha volta e que gostam de mim tanto (ou um pouco menos) quanto gosto delas. Mas esse pequeno parágrafo resulta desimportante, acredito, pois a ninguém são soaria interessante o título de amigo sob o preço de afastar-se do objeto da amizade.
Resumindo essa agumentação pobre e patética, ela própria se faz improfícua; não se pode mesmo, discorde se quiser, esperar de alguém que não tenha amigos que escreva um bom texto sobre amizade.

24 comentários:

Ferreira, Lai disse...

"Por: Daniel 0 verdades foram ditas sobre esse texto. Metagrapté. "

Dizer alguma verdade aqui não é necessário. Pelo menos na minha opinião de agora, concordo com o texto. Cheguei a ler balançando a cabeça. Mas já tenho a certeza de que daqui a algum tempo (minutos, talvez) discordarei de tudo.
Até porque, assim que acabei de ler, acreditei que não era o tipo de texto que se comenta, para que não se torne redundante. E aqui estou eu (sem ter dado ao menos dez minutos ao cérebro para absorver a idéia) comentando mais do que o normal.
É o vício da prolixidade, talvez.
É a necessidade de demonstrar que a tal saudade é essencial, mesmo que me doa.
Eu mudo de acordo com quem estou próxima. E geralmente me arrependo na hora por isso. Mas só geralmente.

Ferreira, Lai disse...

Não generalize tanto.

(spolant)

Daniel Gaivota disse...

Lá vem Laiane com a porcaria do relativismo.

^^ Brincadeira. Eu (como disse no post sobre deletar o blog) me arrependo do que escrevo. Ontem mesmo enquanto bebia, conversei com dois amigos (amigos) e discordei de mim. Apesar de ainda concordar um pouco.
Em se falar de amizade, é impossível não me contradizer; acho que é um dos assuntos mais difíceis pra mim..

PS: Obrigado por escrever algo. As vezes acho que estou escrevendo pra ninguém. Fica mais melancólico ainda.

PPS: Pois é, o lance da saudade é que foi meio que o argumento-chave pra girar minha ideia de cabeça pra baixo. Alguém há de escrever aqui hora ou outra sobre ontem, acho.

Ferreira, Lai disse...

Eu fico com raiva de me contradizer, mas ao mesmo tempo me sinto orgulhosa por isso.
É, maldito relativismo.
Ando tendo problemas (sérios) por causa dele.
):

P.S.: Eu também sinto que escrevo pro nada. Bem, ultimamente nem ando postando mesmo...=p

Daniel Gaivota disse...

Eu as vezes dou uma olhada lá, mas nada..

Daniel Gaivota disse...

Algo!

Dargains disse...

sempre penso sobre isso,
de como minhas amizades são,
tenho amigos à distância sim, acho até que esses são, nas poucas vezes que os encontra, as pessoas mais legais do mundo, mas acho essencial ter alguém sempre com você, me faz sentir feliz, odeio ficar sozinho.

Ferreira, Lai disse...

Emuxos.
u.u

Daniel Gaivota disse...

Não é coisa de emuxo, eu já aceitei minha condição solitária. Eu estou e estarei sempre sozinho. Tanto quanto todas as outras criaturas do planeta (e viva a Vovó Morte).

Igor Dorneles disse...

Daniel nem vou comentar sobre o texto[ babei ] vou comentar sobre os outros comentários, apesar de acreditar que essa discussão acrescenta a ponto de fazer parte do texto. Eu sou um puto de um fútil, adoro ser admirado, ouvir que me amam e ter muitas pessoas ao meu redor, tenho muitos e muitos amigos, eu os amo de um modo muito particular, assim como amo vocês 3 de modo diferente cada um. Assim percebo que não dou muita atenção pra ninguém e que meus laços não tão forte e profundos como as raízes das árvores, por isso as vezes me sinto muito só, ou melhor quase todo tempo me sinto só e gosto disso, mas se sozinho o tempo todo não é legal acabei criando hábitos como falar sozinho, ser boa parte do tempo mal humorado e não me importar com que as pessoas falam, pois eu já não tenho medo de perder todos, afinal quem acredita que está sozinho não pode temer isso. Amizade é um jogo muito obscuro e por ser tão inseguro não tenho coragem pra me doar 100%, talvez por isso goste de ser tão sozinho.

Daniel Gaivota disse...

Entendo o que você disse, Igor, e me identifico com algumas coisas, mas no mais somos bem diferentes.

E a principal diferença é que eu nunca estou sozinho. Sempre há alguém, amigo ou não. Um dos pontos centrais do meu texto (ok, talvez não tão centrais, mas digamos que estejam próximos do centro - seja lá o que for o centro de um texto) é a negação da superestima das pessoas em relação à amizade (como ficou bem claro, meu conceito de amigo é bem diferente do seu ou da esmagadora maioria das pessoas). Na verdade eu gosto muito mais de algumas pessoas que não considero minhas amigas do que da maioria dos meus amigos. Sendo assim, sempre há alguém comigo - mesmo que eu QUEIRA ficar sozinho tem alguém lá. E eu gosto dessa pessoa, seja quem for.

A segunda diferença é que eu dou muita atenção, na verdade uma extra atenção pra todo mundo, e meus laços podem não ser profundos como algumas raízes, mas são muito fortes sempre.

E é.. eu também também não sei me doar, nem 10%. Ainda assim, não gosto de estar sozinho.




Talvez só um pouquinho.

Igor Dorneles disse...

Eu não sei fazer o meio termo e antes de magoar alguém eu prefiro manter aquela cordinha de segurança com o mundo, sabe tipo museu. Eu nunca estou sozinho, mas sempre tenho essa sensação.


Eu curto ser assim sozinho, mas eu não curto isso o tempo todo.

tile justen disse...

depois desse dia, e dessa conversa parei de me vangloriar q era uma pessoa sem ciúmes...descobri na conversa q eu tinha -e forte-uma das características q mais abomino...

foi parecido com o dia em q conversando com o nilton descobri q era egoísta...

como conversas tão boas podem nos fazer descobrir coisas tão ruins? =/

Daniel Gaivota disse...

Ah, mas você tem que ver que esse texto está pincelado de melancolia. Pensando bem (como disse algumas vezes acima), não é ruim ser como eu - incapaz de sentir ciumes (num sentido mais amplo, claro) - nem é ruim ser ciumento - mesmo que exageradamente.
Acredito que as coisas são do único (e, assim, melhor) jeito possível. Egoismo e ciúme são naturezas taxadas de ruins, mas não são, de modo algum.
Na verdade são até muito bonitas.
Mas é claro que são; não poderiam não ser.

tile justen disse...

é pode ser...
é q na verdade, não acho q o ciúmes seja bom pra uma relação.e sempre achei q não fosse algo natural em mim...=/
assim, como o egoísmo...

tô lembrando agora de uma frase da simone de beauvoir sobre ciúmes. ela diz algo como "o ciúmes é natural, o não quer dizer q ele seja bom pra relação" por isso ela controlava o dela com sartre.

melhor pra mim ver de dessa forma,são naturais, mas podem ser controlados...

(obviamente meu lado atená quer racionalizar tudo e chegar a uma solução!rs)

Daniel Gaivota disse...

Hhahaha, é, e o que eu disse é só meu lado Hades querendo tornar desimportantes essas coisas mundanas.

Na verdade, a grande mioria do que escrevo aqui é Hades.



..Hum, isso até me deu uma idéia (com acento); vou escrever um post daqui a pouco.. ^^

Daniel Gaivota disse...

*grande mAioria

Daniel Gaivota disse...

**Acabou que eu escrevi outra coisa sem ser o que tinha pensado.. haha!

chayenne f. disse...

cara,
não.


e mesmo que isso seja uma discordância levada por uma extrema concordância, não importa.
o importante é que eu nego. e só.









(prefiro ser rabugenta do que emuxa.)

Daniel Gaivota disse...

Você é inegavelmente uma emuxa rabugenta, Chay.

Gi disse...

Eh bem possivel que, por tanto tempo ja ter passado dps de escrever esse texto, vc nem venha a encontrar meu comentario..

Mas.. Por ter me tocado tao profundamente, nao poderia apenas me calar e fechar essa pag da internet..

Acho que, pricipalmente, por discordar de td que foi dito.. Por dps de ter lido meu coraçao ter ficado apertado, pequeno, com uma falta de ar, de algo inexplicavel, que me fez sentir uma dorzinha aqui dentro.. Talvez pq eu sou aquela que sente demais, se entrega, se apega e gosta de td tipo de contato, tenha ficado tao "abalada" com teu texto!

Sei que suas relaçoes com o mundo (e com vc msm) sao mto complexas e diferentes, mas ao msm tempo penso que tlvz vc diga que se importa menos do que se importa de verdade..

E sim.. Suas amizades (sendo mtas ou poucas) sao verdadeiras.. Vc sempre esta rodeado de amigos, mtos gostam de vc.. E em qqr tipo de relaçao tem que existir reciprocidade ou ela se torna apenas platonica (e isso vc ja sabe), e o platonico nao cabe dentro do amor que a amizade exige!

Nao existe dentro da amizade um amor incondicional (que pra mim soh existe o de mae e olha lah), td que tds fazem eh esperando (inconcientemente) algo em troca, pode ser pouco, pouquissimo, quase nada.. Mas precisa existir! Ngm vai ficar "gastando" amor com algm que parece nao ligar pra isso..

Sendo assim.. Vc pode nao perceber, mas ao seu modo (mtas vezes contraditorio) vc retribui a amizade que recebe.. E a intimidade? Ela tem mtas vertentes, Dan.. De repente so falta vc enxergar isso!

Ponto final.

Daniel Gaivota disse...

Eu acho que sim, talvez concorde com quase tudo o que você diz, Gi

Mas como já disse, eu me contradigo ao falar de amizade; relações pessoais pra mim são um amálgama emaranhado de confusão objetiva e subjetiva

(não pontuei porque você deu o ponto final)



PS: Eu leio todos os comentários, novos ou velhos
^^

PPS: Que nervoso, não pontuar

Daniel Gaivota disse...

PPPS: Apesar de precisar de óculos, eu enxergo muito bem, obrigado
:)

Gi disse...

Perdão pelo "ponto final".. Não achei que vc levaria tão a sério!

E confesso que fiquei mto surpresa por vc ter visto meu comentário.. Enfim.. Continuo com o meu ponto de vista, e repetiria td que já falei acima..

Outra coisa.. Enxergar as vezes não é uma questão de visão! Pense nisso! haiuhaiuhaia

Só digo que.. Boa sorte Dan, é um caminho mto complicado o que vc escolheu, mas d qqr forma (sendo ou não do circulo que amigos qe vc considera como tais), qndo vc precisar, to aqui! Vc sabe.. Adoro ajudar as pessoas, mesmo que as vezes eu fique mais abalada por elas do que elas msm.. hauhauiahiauuaihiuahiua..

Sem ponto final dessa vezes

Tlvz "..." seja melhor pra terminar esse comentário

Então...