22 de maio de 2011

Bolo

Olha, mas não vê. Procura, vasculha. Os músculos já lhe doem, razão pela qual se move um pouco, troca a posição das pernas e logo dos braços. Os olhos também já não estão tão bem, e as mãos esfregam as olheiras. Olhando de longe, parece uma escultura, estátua, parada enquanto tudo ao redor se move; situação que dialoga com a dos já referidos olhos, que parecem mover-se sem parar enquanto tudo em volta deles estagna.
O ambiente ao redor cada vez mais se alenta e o movimento pouco a pouco começa a cessar, e o corpo, que mesmo com os olhos vacilantes ainda permanecia parado, move-se, como se quisesse contrariar o entorno, quase brusco: suspende-se todo sobre si, e se solta. Um suspiro. Os pulmões se enchem totalmente de ar e o liberam, mas com o ar parece sair também algo mais.
Levanta-se, olha, mas não vê. Procura, vasculha uma última vez, mas já sem esperança: a pessoa por quem está a esperar não vem.

4 comentários:

Anônimo disse...

nossa que texto bonito, realmente incrível.
Mas tem alguma indireta ai??? Você escreveu especialmente a alguma pessoa?

Adorável esse blog, já está nos meu favoritos.

Daniel Gaivota disse...

Oi, Anônimo!
Valeu pelo elogio. :]

Eu acho que todo texto contém em si, necessariamente, muito do autor. Por outro lado, nenhum texto vai dar conta de expressá-lo..

Sendo assim, não há nenhum texto de não-ficção aqui: tudo é personagem e história, mas todo texto diz inevitavelmente um pouco mais de Daniel.

Há indireta em todo texto, e este escrevi especialmente pra muitas (todas?) pessoas! :)
Eu espero, espero sempre!

Ferreira, Lai disse...

posso te levar pra uff e te chamar de trabalho-que-vale-muitos-pontos?

sério, é muito mais fácil quando já vem pronto.

Daniel Gaivota disse...

Hauhauhauah.. Mas talvez eu te dê o bolo.