Chove, e chuva sempre significa desolação. Sempre hoje. Houve já aquele tempo de brincar na chuva ou lá andar de bicicleta, chegar em casa ensopado e logo ser mandado em direção ao banheiro, em vocíferos.
Agora sou o tempo todo acossado, por tudo e todos. No tempo em que pegava chuva, a palavra 'acossado' me traria alguma sensação que não digo, pois não sei, só ouvi a palavra em adulto, talvez, e já com o signo talhado. Hoje me traz Godard, e mais ainda agora.
Porque meu quarto é o contrário do quarto que o filme mostra por mais de vinte minutos, ali com a intenção de poder filmar o íntimo, que falta(va) ao cinema, o desejo de um cinema-verdade; aqui, sem intenção: não há privança, intimidade no meu quarto, nada interior, secreto, pessoal. Não há nada aqui senão a ausência da chuva. Por muito mais de vinte minutos (ou muito menos, não se saberia), minha câmera mostraria um quarto fora do tempo, um retrato da eternidade e do nunca ter sido. Se alguém pudesse pintar um quadro meu agora, pintaria o próprio tempo.
Em vez de falar de chuva falei do filme e falei do quarto, mas sem se enganar, mais, a chuva envolve (e acossa) tudo isso. O filme, o adulto, o quarto, a desolação, tudo aqui é só não-chuva. Só quem ficou do lado de fora do quarto - que é o lugar da chuva, chuvas não entram em quartos, nem quando estão a perseguir alguém - foi a criança. Só quem não é acossado, e nem Acossado, é o garoto molhado que não sabe o que significa essa palavra e nem quem é Godard e nem quem é Truffaut.
Tenho vontade de abrir a porta e tomar um banho de chuva, mas o barulho parou, e eu tenho medo de já ter estiado. Ou pior, de não chover nunca mais.
Agora sou o tempo todo acossado, por tudo e todos. No tempo em que pegava chuva, a palavra 'acossado' me traria alguma sensação que não digo, pois não sei, só ouvi a palavra em adulto, talvez, e já com o signo talhado. Hoje me traz Godard, e mais ainda agora.
Porque meu quarto é o contrário do quarto que o filme mostra por mais de vinte minutos, ali com a intenção de poder filmar o íntimo, que falta(va) ao cinema, o desejo de um cinema-verdade; aqui, sem intenção: não há privança, intimidade no meu quarto, nada interior, secreto, pessoal. Não há nada aqui senão a ausência da chuva. Por muito mais de vinte minutos (ou muito menos, não se saberia), minha câmera mostraria um quarto fora do tempo, um retrato da eternidade e do nunca ter sido. Se alguém pudesse pintar um quadro meu agora, pintaria o próprio tempo.
Em vez de falar de chuva falei do filme e falei do quarto, mas sem se enganar, mais, a chuva envolve (e acossa) tudo isso. O filme, o adulto, o quarto, a desolação, tudo aqui é só não-chuva. Só quem ficou do lado de fora do quarto - que é o lugar da chuva, chuvas não entram em quartos, nem quando estão a perseguir alguém - foi a criança. Só quem não é acossado, e nem Acossado, é o garoto molhado que não sabe o que significa essa palavra e nem quem é Godard e nem quem é Truffaut.
Tenho vontade de abrir a porta e tomar um banho de chuva, mas o barulho parou, e eu tenho medo de já ter estiado. Ou pior, de não chover nunca mais.
5 comentários:
Bacana! Não sabia desse filme (acredite..) ¬¬
=*
:)
É um bom filme. O primeiro do Godard, acho.
... ou você está falando do meu filme, que não existiu?
fiquei confusa :S
Quisera eu ficar confuso.
Acho que estou virando adulto pra sempre.
Naaaaaaaaaaaaahh!
;]
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