22 de dezembro de 2009

Lágrima

Seu devir é um breve rubor acompanhado de um arrepio, cujas causas, desconhecidas, são o único conhecimento possível no momento observado. O entrecortar ansioso da respiração anuncia, sem erro, o fenômeno que seguirá; sente-se algo subir e percorrer a extensão do corpo e inundar o momento: o espaço e o tempo. Ela brota, vindo de lugar nenhum e instantaneamente (sendo, assim, inespacial e atemporal); sem que se queira, mas inimpedível; abrupta e ao mesmo tempo cálida, confortável. Ela reflete o mundo, iluminada por ele, mas o rejeita, pois ele é a causa de sua sôfrega existência. Uma parte liquefeita daquele que a chorou, mas – assim como a poesia está para a prosa – condenada a se conter, concentrada, condensada, como se a tristeza de todo um corpo pudesse reunir-se num só ponto e separar-se desse corpo. Desliza cortando o rosto, desprende-se dele, molha o chão. Contradição e tautologia, metáfora e metonímia, vontade e desejo. Tudo o que se foi neste momento reunido numa gotícula, que se faz em milhares de frações ao se espatifar no solo, espalhando por ele todo o sentimento. Logo vem outra.